Em entrevista ao portal do Instituto Paramitas, Rodrigo Nejm, diretor da SaferNet Brasil, organização que desde 2005 combate pornografia infantil na internet, traz dicas de como proteger crianças e adolescentes da ação de pedófilos, a importância de campanhas de conscientização e a necessidade de trabalho em conjunto da família, Estado e sociedade. Tudo para que os jovens possam aproveitar o máximo da rede sem correr riscos desnecessários. “O importante é fornecer condições para que as crianças e adolescentes possam desfrutar dos infinitos benefícios e oportunidades que a internet oferece para todas as idades”, ressalta.

Como os pais podem identificar indícios de que o filho ou filha está se relacionando com pedófilos pela internet? O que fazer em caso de suspeita?

É sempre importante que os pais naveguem juntos com seus filhos desde o primeiro clique. Não é preciso ser “expert” em tecnologia para poder proteger a família on-line. É importante deixar o computador em área comum da casa, negociar horários, conhecer os amigos virtuais dos filhos e muito, muito diálogo sobre o cotidiano na rede. Se a criança mudar repentinamente os horários e locais de acesso à internet ou sempre desligar o monitor quando um adulto se aproxima, preste atenção: estes são sinais de alerta que merecem uma conversa. Proibir não educa e nem previne.

Em tempos de redes sociais e intensa exposição, como abordar o tema sobre segurança na internet com crianças e adolescentes?

Diálogo e relação de confiança. Os pais precisam ver a internet como uma praça pública na qual seus filhos passeiam, brincam, conhecem pessoas e se divertem. É preciso educá-los para serem cidadãos e pessoas éticas nessa nova praça mundial. Conhecer minimamente os amigos virtuais, saber quais locais frequentam e sempre reforçar que na internet nunca podemos ter certeza de quem está do outro lado. Basicamente, os mesmos cuidados para preparar nossos filhos para frequentarem a rua sozinhos.

Segundo pesquisa desenvolvida pela CPP, 80% das adolescentes brasileiras não se sentem seguras on-line e apenas 1/3  delas disse saber como denunciar crimes pela internet. Você acredita que as campanhas do governo e de ONGs podem surtir efeitos para a prevenção e punição dos criminosos? Como podemos avançar?

Sem dúvida as campanhas podem ajudar, mas como prevê a Constituição Federal, é dever compartilhado da família, do estado e da sociedade proteger as crianças e adolescentes. É preciso somar esforços de campanhas nos meios de comunicação, orientações nas famílias, nas escolas e na própria internet. Para isso a SaferNet contribui com canais de orientação como o Nética, concursos educativos, formação de educadores e jovens, pesquisas para subsidiar políticas públicas, entre outros. O importante é fornecer condições para que as crianças e adolescentes possam desfrutar dos infinitos benefícios e oportunidades que a internet oferece para todas as idades.

As escolas estão preparadas para debater sobre assuntos como ciberbullying e pedofilia pela internet? Projetos como o apresentado pelo vereador mato-grossense Toninho da Gloria, do PV, de incluir na grade curricular aulas para prevenção e orientação aos alunos das escolas municipais sobre pedofilia podem trazer bons resultados?

Acreditamos que o alarmismo não é o melhor caminho para lidar com estas questões. A violência sexual é muito mais grave no âmbito familiar e presencial. O bullying e o ciberbullying são expressões de violência que devem sim ser tratadas, mas de forma transversal como já está previsto nos Parâmetros Curriculares do MEC. Para promover o uso seguro, é preciso promover debates  sobre cidadania, sexualidade, cordialidade e ética. Estes são temas que devem ser contemplados pelas diferentes disciplinas em diferentes contextos. A SaferNet tem contribuído com materiais pedagógicos para facilitar este trabalho e incorporá-los nas políticas públicas de educação no país (veja aqui). O desafio dos educadores é ainda maior quando consideramos a diferença de familiaridade com as tecnologias entre  alunos e educadores. Em vez de focalizar nos aspectos técnicos que não dominam tanto, os educadores devem focar nas questões relativas à cidadania e ética para facilitar o trabalho.

A recente história da jovem estagiária de Direito que será indiciada por crime de racismo na internet contra nordestinos pode ajudar a desmistificar a imagem que muitos têm de que a internet é “terra de ninguém”?

Justamente, a internet não é terra da impunidade do “faço o que quero e ninguém me acha”. A internet é como uma praça pública mundial, frequentada por mais de 2 bilhões de pessoas. Todas as leis brasileiras valem para o uso que os brasileiros fazem da internet. Crimes precisam ser denunciados e são investigados pelas autoridades brasileiras. As empresas de internet também têm o dever ético de educar os internautas e prevenir violações de direitos no ciberespaço. O caso desta estudante mostra o potencial da Internet para disseminar e compartilhar informações, além de deixar claro que precisamos pensar antes de publicar algo. Será que ela faria isso usando um megafone no meio da Praça da Sé?



Quais ações a Safernet desenvolve para a prevenção de crimes na internet?

A SaferNet tem atuado em cooperação com as Secretarias de Educação em mais de 10 estados brasileiros para formar multiplicadores, coordenadores pedagógicos, distribuindo gratuitamente um kit pedagógico com recursos educacionais abertos em vídeos, animações, quadrinhos, cartilhas, glossários e planos de aula que tratam do tema Uso Ético e Seguro da Internet de forma transversal. Em cooperação com a Polícia Federal e com o Ministério Público Federal, elaboramos campanhas nacionais de televisão para conscientização dos usuários. Os materiais e formações também são direcionados aos pais por meio de projetos com a escola e outras ONGs que discutem o tema, como a ONG parceira Chilhood Brasil. Todos os anos a SaferNet coordena no Brasil as atividades do Dia Mundial da Internet Segura para promover a conscientização dos brasileiros:  Dia da Internet Segura. Nos espaços do Nética e na Safernet compartilhamos estes recursos de interesse público.

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