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NOTÍCIAS

04-04-2012

Cyberbullying, um perigo real

O Instituto Paramitas esntrevista Cleo Fante, pesquisadora de renome nacional e internacional na temática do bullying. Ela explica o que é o cyberbullying, onde ele ocorre, como detectá-lo e, principalmente, como evitá-lo.

As agressões virtuais são difíceis de serem percebidas, pois não possuem marcas físicas, mas podem ser prevenidas de diversas maneiras.

Pais e educadores devem estar atentos ao comportamento dos jovens, e explicar, abertamente, que o cyberbullying existe de fato, numerando todos os perigos que estão presentes na internet. É importante ensinar o uso ético das redes sociais, evitando constrangimentos e ações suspeitas no mundo virtual.

Veja a seguir a entrevista que Cleo Fante concedeu ao Instituto Paramitas.

 

Antes de falarmos sobre o cyberbullying, gostaria que explicasse o que é o bullying.

Bullying é o termo empregado na maioria dos países para designar situações em que um estudante ou um grupo de estudantes, intencionalmente, adota comportamentos agressivos e repetitivos contra outro(s), em desvantagem de força ou poder, colocando-o(s) sob tensão e dominação, resultando em danos e sofrimentos, sem motivos evidentes. O bullying é um fenômeno extremamente relevante que ameaça o desenvolvimento saudável da infância e da juventude em todo o mundo.

Como as agressões físicas tornaram-se também virtuais?

O bullying ganhou um novo espaço de ocorrência com o surgimento de uma série de modernos recursos tecnológicos, que facilitaram a conexão entre as pessoas em tempo real. Portanto, uma caçoada, apelido ou ameaça, que ocorria na sala de aula ou no pátio do recreio, passou a se propagar em rede mundial o que, com certeza, prejudica ainda mais o alvo, já que a velocidade de propagação do conteúdo divulgado, a tendência das vítimas reproduzirem os abusos e a dificuldade de identificar o autor – que se respalda na falsa sensação de anonimato e impunidade – são alguns dos fatores que tornam o cyberbullying ainda mais prejudicial.

Quais são os meios mais fortes onde pode ocorrer os bullying virtual?

Os praticantes se utilizam principalmente dos computadores e celulares ligados à internet para assediar. Canais como e-mails, fóruns, blogs, fotoblogs, redes de relacionamento social, SMS, jogos on-line, mensagens instantâneas, dentre outros. No entanto, as redes sociais, como Orkut e Facebook, são as mais utilizadas.

Sabendo que a agressão virtual não causa hematomas ou marcas físicas, como os pais podem perceber que seus filhos estão sofrendo o cyberbullying? Quais sinais uma criança ou adolescente apresenta?

É importante que os pais fiquem atentos quanto ao comportamento dos filhos, quando utilizam a tecnologia de informação e comunicação. Devem observar se demonstram preocupação, nervosismo, excitação, ansiedade, raiva. Se repentinamente evitam ou deixam de fazer uso do computador ou celular. Se recusam em atender chamadas telefônicas ou pedem para mudar de escola ou apresentam queixas para faltar às aulas. Ainda, se evitam repentinamente comentar coisas sobre a escola ou sobre os colegas de escola. Alguns sintomas também podem surgir, especialmente no momento de irem à escola, como dores de cabeça e de estômago, febre, ânsia ou vômito, tremor, suor excessivo, tonturas, alergias, resfriados etc.

Como os pais podem prevenir o cyberbullying?

Os pais devem saber, primeiramente, que todos os atos praticados por seus filhos menores são de sua inteira responsabilidade. Por isso, sugerimos que façam uma reflexão sobre sua atuação dentro da família; que reavaliem seu papel como autoridade, que respeita e é respeitado e quais os exemplos que estão oferecendo aos filhos, já que são modelos de identificação. Em relação ao cyberbullying, é importante a adoção de algumas medidas que podem evitar possíveis envolvimentos. Os pais devem criar – com a participação dos filhos – regras para o uso dos computadores, como por exemplo, tempo e horário de uso, sites permitidos etc. As regras devem ser simples e precisam ser obedecidas, resultando em sanções quando descumpridas. Devem observar se o computador está instalado em espaços comuns de convivência, uma vez que a ausência de adultos e de vigilância facilita os perigos on-line. Os pais devem conversar sobre os benefícios e os perigos do mundo virtual; esclarecer o que é cyberbullying e suas consequências civis e criminais; orientar que, apesar da convivência ser virtual, deve-se respeitar as regras utilizadas nos relacionamentos presenciais; orientar que não repassem conteúdos negativos que recebem para não serem responsabilizados como coautores; orientar que o anonimato e a impunidade são falsas sensações, que é possível rastrear e descobrir o autor do conteúdo e responsabilizá-lo, mesmo se tratando de menor de idade. Por outro lado, é interessante que os pais verifiquem a possibilidade de instalação de software de monitoramento a fim de verificar se estão envolvidos em atitudes ilegais ou antiéticas.

Quais consequências tais agressões podem causar a esses estudantes?

As consequências do bullying no ambiente virtual são similares as do bullying no ambiente escolar. As vítimas apresentam grande desgaste energético, físico, emocional e psicológico. Seus efeitos podem ser notados na queda da autoestima, da concentração, do aproveitamento escolar, bem como ansiedade, medo, irritabilidade, apatia. Dependendo da gravidade e tempo de exposição, podem apresentar sintomas depressivos e ideias suicidas, bem como o cometimento de suicídio. Os autores podem apresentar problemas de adaptação e de interação social, comportamentos inadequados e/ou violentos, envolvimento em delinquência e criminalidade, distanciamento dos objetivos escolares, queda no rendimento e abandono escolar, problemas emocionais, dentre outros.

Como denunciar um agressor de cyberbullying?

Bem sabemos que não é fácil identificar o autor de cyberbullying, devido ao anonimato ou perfil falso criado. No entanto, a vítima não deve se calar. Em muitos casos, a identificação só é possível quando se recorre aos profissionais especializados em crimes cibernéticos, devido à gravidade do conteúdo divulgado. Sendo grave ou não, a vítima deve contar para os pais e estes devem procurar a escola, em busca de parceria, já que a maioria dos casos de cyberbullying envolve estudantes que compartilham o mesmo espaço social. A denúncia também deverá ocorrer na polícia, quando a exposição resultar sérios danos, como constrangimento, humilhação, ameaça à integridade física, moral ou psicológica do alvo e/ou de seus familiares. É preciso que os pais ou responsáveis reúnam todas as provas possíveis, salvem o conteúdo ofensivo e façam a sua impressão, para que haja materialidade. Em posse de provas, devem dirigir-se a uma Delegacia Especializada em Crimes Cibernéticos ou Delegacia de Polícia e formalizar uma queixa do crime. Deverão, ainda, notificar o prestador de serviço da internet para remover o conteúdo ilegal ou ofensivo. Caso a vítima apresente algum sinal de prejuízos emocionais, deve-se encaminhá-la a um profissional de Psicologia.

Como os educadores podem ajudar a evitar o cyberbullying?

Os educadores devem orientar os estudantes para o uso ético e responsável da tecnologia da informação e comunicação, bem como das possíveis responsabilizações legais para os praticantes de cyberbullying e seus responsáveis; devem alertar para que não repassem conteúdos difamatórios, para que bloqueiem ou excluam contatos abusivos ou pessoas desconhecidas, bem como, não respondam as ofensas recebidas; devem orientá-los sobre as providências a tomar, caso sejam vítimas, salvando o conteúdo ofensivo ou difamatório e procurando imediatamente um adulto para tomar as providências cabíveis; devem oferecer canais de comunicação para que as vítimas possam denunciar e buscar auxílio, sem medo de represálias; devem alertar para os perigos on-line; devem desenvolver estratégias de educação para a cultura de paz.

Cleo Fante. Pesquisadora de renome nacional e internacional na temática do bullying. Idealizadora do programa antibullying Educar para a Paz. Docente em cursos de pós-graduação. Autora dos livros: “Fenômeno bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz” (2005), “Bullying escolar: perguntas e respostas” (2008), “Trabalhando a prevenção do bullying nas escolas” (2010), “Bullying: intimidação no ambiente escolar e virtual” (2011) e de vários artigos e entrevistas veiculadas nos meios de comunicação. Conferencista convidada em mais de 200 eventos no Brasil, com a participação direta de cerca de 180 mil pessoas. Presta consultoria às instituições públicas e privadas na implantação de programas antibullying e cultura de paz.

(Por Claudia Levy)