05-05-2025
EDITORIAL
O Brasil de 2025 vive um paradoxo inquietante. De um lado, celebramos os avanços da Inteligência Artificial, a expansão da conectividade e o discurso otimista da inovação. De outro, seguimos com escolas públicas sem papel higiênico, sem merenda regular, com professores exaustos e estruturas físicas precárias.
Ao mesmo tempo, enfrentamos uma emergência climática que já atinge diretamente a vida escolar: chuvas que isolam comunidades, calor extremo que inviabiliza aulas, estiagens que comprometem a saúde de crianças e jovens.
É preciso dizer com clareza: não existe futuro para a educação pública brasileira que ignore essas realidades ou as trate separadamente.
A tecnologia, especialmente a IA, pode e deve ser uma aliada no enfrentamento das desigualdades. Mas não pode ser apresentada como a salvação de um sistema educativo que segue subfinanciado e fragmentado.
Plataformas, algoritmos e soluções digitais precisam caminhar junto com o básico: acesso à água, alimentação escolar, bibliotecas, professores bem pagos e reconhecidos.
É tempo de abandonar a ilusão da inovação descolada da justiça social.
Não há mais espaço para pensar a educação sem considerar a crise climática como eixo estruturante do currículo e da política pública.
Crianças e adolescentes que hoje estudam sob telhados vazando ou salas sem ventilação precisam ser preparados não apenas para o mercado de trabalho, mas para um mundo que exige resiliência, consciência ecológica e compromisso ético com o planeta.
A educação pública é, também, um lugar de proteção climática.
Acreditamos que é possível articular uma educação pública de qualidade, que integre o uso crítico da tecnologia com a promoção da justiça climática e social. Mas para isso, é preciso coragem para dizer que não basta conectar escolas à internet — é preciso reconectá-las à dignidade.
É preciso reconhecer o papel central da escola na proteção da vida e no fortalecimento de territórios.
Não há inteligência artificial capaz de substituir o vínculo humano que sustenta o processo de ensinar e aprender.
Não há inovação significativa quando professores precisam levar papel de casa para garantir o mínimo aos seus alunos.
Não há transformação real quando tratamos a emergência climática como pauta secundária.
Nosso compromisso é com uma escola que não separa o que está junto: tecnologia, justiça, clima e humanidade.
Um projeto de país se constrói com o que se planta na sala de aula. E a semente precisa ser real, viva e coletiva.
Instituto Paramitas
Maio de 2025