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NOTÍCIAS

14-09-2015

Por uma educação inclusiva em sua totalidade - Entrevista com Selma Bessa

Para Selma Bessa, especialista na área de Educação, uma inclusão de verdade é preciso que escola seja em sua totalidade inclusiva, isto é, inclusiva desde sua estrutura física à formação de professores adequada para o ensino de todos os educando, pensando em currículos flexíveis e novas práticas pedagógicas.

Nesta entrevista Selma trada dos desafios enfrentados por educandos e educadores quando o assunto é educação inclusiva nas escolas regulares.

 

01- A meta 4 do Plano Nacional de Educação (PNE) de 2014, garantiu o acesso à educação básica e ao atendimento educacional especializado para crianças e jovens com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, principalmente na rede pública.  

Para você quais foram as conquistas na efetivação desta meta e o que ela ajuda no desenvolvimento dos alunos e na construção da escola?

     Sobre a efetivação da Meta 4 podemos destacar várias conquistas, dentre elas podemos citar:

     a) O aumento gradativo de matrículas de crianças e jovens nessa faixa de atendimento nas escolas públicas aqui em Fortaleza/Ce, de  2008, com 35,5% e 2014 com 82,6%, acompanhando o aumento do índice no Brasil, em 2014, que foi de 78,8% de matrículas de alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação matriculados em classe comuns.

    b) Referente ao acréscimo de Salas de Recursos Multifuncionais nas escolas públicas para o Atendimento Educacional Especializado (AEE):

Vale salientar que segundo dados do MEC, cerca de 42 mil escolas já receberam recursos multifuncionais para acessibilidade e 57 mil escolas tiveram verbas para adequação da estrutura de forma que atenda melhor às necessidades do público alvo.

    c) Aquisição de mobiliários, materiais didáticos pedagógicos, recursos de acessibilidade e equipamentos específicos para o atendimento aos alunos público alvo da educação especial.

    d) Outro ganho relevante foi a promoção de cursos para garantir a formação dos profissionais da educação e comunidade escolar. Atualmente o profissional pode participar da formação continuidade em educação inclusiva com carga horária de 280h/a.

Na perspectiva da construção de uma sociedade igualitária, com maior número de oferta de vagas nas escolas, salas de AEE para essa faixa de atendimento, certamente obteremos um maior número de indivíduos incluídos com mais chances acesso a novos conhecimentos e, através do sentimento de pertencimento, com mais segurança, autonomia, maior oportunidade de visibilidade, o que poderá facilitar o êxito profissional e estabilidade.

 

02- Você concorda que a heterogeneidade dos alunos nas escolas pede que o professor tenha estratégias para desenvolver métodos diferenciados de ensino?

A inclusão defende o direito de todos, sem exceção, a freqüentar as salas de aula de ensino regular. Não se trata apenas de todos freqüentarem a mesma escola, e sim, de freqüentarem as mesmas salas de aula. Portanto, a escola inclusiva é aquela que em sua totalidade se faz inclusiva: com salas de aulas, bibliotecas, banheiros, acessos, projeto pedagógico, e, principalmente, alunos e professores inclusivos. Outra prioridade é ter em seu quadro, professores com formação adequada que possam atender de forma diferenciada seus alunos para garantir um atendimento especializado, por meio da criação de condições favoráveis ao desenvolvimento de um ensino em que leve em consideração as diferenças de seus educandos.

Desta forma, o que fica evidenciado é a necessidade de se redefinir e de se colocar em ação novas alternativas e práticas pedagógicas, que favoreçam a todos os alunos, o que, implica na atualização e desenvolvimento de conceitos e em aplicações educacionais compatíveis com esse grande desafio com currículos flexíveis adaptados à realidade de cada um.

03- De acordo com sua experiência com o uso da comunicação alternativa e recursos de acessibilidade para professores do atendimento educacional especializado, como os educadores podem lidar com esse desafio?

O professor na sua relação com os alunos deve identificar elementos que possam contribuir na elaboração de estratégias pedagógicas, no sentido de favorecer a intervenção para o enfrentamento da exclusão educacional e social. Isto é, os docentes devem priorizar a inclusão educacional através da troca de experiências no trabalho pedagógico e no desenvolvimento de mecanismos de aprendizagem. 

Vale ressaltar que a tarefa fundamental é organizar a escola para a eliminação das barreiras e para o fortalecimento das relações entre a escola e a família. Hoje percebemos que aqueles docentes que conhecem e sabem utilizar as “Pranchas de Comunicação Alternativa” podem, em virtude da funcionalidade da ferramenta, ajudar de forma mais eficaz o referido aluno em suas necessidades pedagógicas básicas em sala de aula.

Hoje, a maioria dos professores do Atendimento Especializado - AEE compreende a importância do uso da comunicação alternativa e dos recursos de acessibilidade para os alunos público alvo da Educação Especial. Contudo, ainda persistem algumas dificuldades que impedem a utilização desses recursos, tais como, falta de acesso à internet ou baixa velocidade na conexão na Sala de Recursos Multifuncionais, impressoras com defeito, falta de conhecimento de alguns professores acerca das tecnologias desenvolvidas e disponíveis para este fim, dentre outros obstáculos. Entretanto, a participação em formações continuadas com foco nessas temáticas instigam esses profissionais a resinificarem em suas práticas pedagógicas, possibilitando uma maior abertura a inovações e consequentemente a criatividade. Nesse contexto, as equipes técnicas da Secretaria Municipal da Educação de Fortaleza, ao ofertarem formações nesse campo pretendem habilitar esses profissionais na lida com esse desafio.

 

04- Com o uso da TDIC nas práticas pedagógicas cada vez mais incorporadas ao cotidiano da escola, como você considera que isto pode auxiliar o professor a lidar com esses desafios?

A utilização da TDIC no cotidiano escolar possibilita aos professores maiores possibilidades didático-pedagógicas, tornando o processo de ensino aprendizagem mais atrativo e prazeroso. Consequentemente, há grande possibilidade de uma maior motivação profissional, corroborando para o fortalecimento da construção de aprendizagens significativas. 

05- De acordo com sua experiência, quais ferramentas os professores podem usar para preparar aulas de forma que os alunos possam participar cada um em seu ritmo?    

O conhecimento necessário aos professores para tornar mais eficaz suas práticas pedagógicas associadas às inovações tecnológicas passa por uma formação continuada que busca ajudar o docente no desenvolvimento de competências e habilidades, inclusive na inserção e manejo das ferramentas digitais para fins pedagógicos.

Entretanto, essas ferramentas não devem ser vistas exclusivamente como ferramentas. Muito menos, não devem configurar como o mais importante na ação pedagógica do docente. O que se postula aqui é, apesar de serem poderosas, serem dotadas de multifuncionalidades atrativas, não é em torno de, ou a partir delas (somente) que se deve propor uma atividade didática. Essa escolha deve seguir duas vertentes: a primeira sobre a percepção do professor no que se refere ao reconhecimento das características comportamentais do aluno visando à identificação e a compreensão das necessidades dos mesmos. Em seguida, é vital para todo o processo que tenhamos (comunidade escolar) clareza sobre as possibilidades pedagógicas que o recurso oferece para melhor aperfeiçoar o processo ensino-aprendizagem.  Isto posto, inicia-se a seleção dos recursos mais apropriados para aquela realidade escolar de acordo com o objetivo que se pretende alcançar com e para ela.

06- Houve nos últimos anos um aumento considerável no número de matrículas, isso se deve às políticas públicas, como você vê o paralelo entre esse aumento e os incentivos para oferecer um ensino de qualidade?

É importante destacar que garantir o acesso dos indivíduos à escola não significa, necessariamente, que esse ensino seja de qualidade. Para tanto, faz-se necessário inúmeras ações efetivas que possam alcançar a garantia da qualidade nas ações educativas. Podemos citar: o comprometimento da realização da formação do professor, inicial e continuada, com enfoque na compreensão das necessidades especiais de quaisquer alunos; o aparelhamento e desenvolvimento da escola; a promoção, a colaboração e interação entre todos os atores da instituição escolar; o favorecimento à construção de um ensino voltado para o exercício do potencial criativo dos educandos;

07- Como você define o potencial de contribuição das chamadas “Redes de Aprendência” dentro desse contexto tão desafiador?

O grande desafio que se configura hoje para o professor é a apropriação, no contexto formativo das ferramentas digitais e o reconhecimento das possibilidades pedagógicas desses recursos. O professor necessita trabalhar num contexto criativo, aberto, dinâmico, complexo, como por exemplo, nas redes sociais, espaço onde o aluno já se faz presente. E a idéia de redes de aprendência surge a partir deste desafio e da intensão de apresentar caminhos para que o professor desenvolva projetos transdisciplinares. O professor, diante da inovação vivenciada durante o processo de Formação, articulou a teoria à prática, através do uso das TDIC inseridas ao currículo, numa perspectiva que vai além dos conteúdos, nas redes de aprendência. A proposta transdisciplinar vem mostrando o que está entre, através e além das disciplinas, dos conteúdos e das ferramentas digitais.

Os participantes demonstraram a necessidade de criar espaços para aprender e ensinar. Espaços estes, em que docentes e estudantes tornam-se autores, com mediação pedagógica que promovem a interação e a produção colaborativa de conhecimento.

Assim, com essa prática, foi possível avançar para uma educação realmente inovadora, que motivou e impulsionou a aprendência (aprendizagem) de professores e alunos, em uma escola mais condizente com a realidade atual e com as inúmeras possibilidades que as tecnologias oferecem. Enfim, impulsionam uma postura reflexiva contínua e com registros (em ambiente virtual) acerca de saberes e fazeres, contribuindo para a TransFormação de educadores e estudantes.

08-Na sua percepção em que medida o olhar transdisciplinar pode fazer a diferença na vida dos educadores e dos ‘aprendentes’?

Através da abordagem transdisciplinar, a formação, promoveu transformações profundas e significativas, tanto de natureza pessoal como profissional nos envolvidos. No estudo desenvolvido percebeu-se que houve um resgate da esperança de se trabalhar a partir de um novo referencial teórico capaz de suscitar um fazer pedagógico com múltiplos caminhos e alternativas, onde os docentes envolvidos puderam adquirir posturas pedagógicas inovadoras, com inusitadas formas de pensar, aprender e compartilhar conhecimento utilizando as ferramentas digitais para dinamizar as situações de aprendizagem e interação comumente não experimentadas na escola.

O professor percebeu-se envolvido em contextos digitais, que além de instrumentalizar-se, tornou-se um agente, um produtor e crítico das novas tecnologias, favorecendo-o no desenvolvimento de estratégias inovadoras e motivadoras na produção do saber e inovação de sua prática pedagógica.

 

Referências:

  1. //www.observatoriodopne.org.br/metas-pne/4-educacao-especial-inclusiva
  2. http://www.arede.inf.br/inovar-e-possivel-e-necessario-mas-nao-e-suficiente/
  3. http://lousadigital.blogspot.com.br/
  4. http://www.increa.uneb.br/anais/increa2/moraes.pdf
  5. https://about.me/selmabessa0808
  6. https://www.youtube.com/watch?v=TYumU_dpxRg
  7. https://www.youtube.com/watch?v=_xLZ7z12Gak

 

 

Selma Bessa é especialista em Tecnologias em Educação, Mídias na Educação na Universidade Federal do Ceará e graduada em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará. Atua no Núcleo de Tecnologia Educacional – NTE, no Centro de Referência do Professor – CRP, ministrando cursos na área de informática educativa/tecnologias da informação e comunicação, através do programa de formação de professores do Sistema Público Municipal de Ensino de Fortaleza e na equipe de Formação do curso "Formação Continuada sobre o uso da comunicação alternativa e recursos de acessibilidade para professores do atendimento educacional especializado".

 

Por Manoela Bueno