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NOTÍCIAS

26-11-2011

Desafios do plano de aula

O que faz um plano de aula ser bom? Como elaborar aulas criativas e dinâmicas utilizando as TIC?

Em entrevista ao portal do Instituto Paramitas, a psicóloga e pedagoga Grace Luciana Pereira, especializada em Administração Geral, Orientação e Direção Escolar, contou que o fundamental para um plano de aula eficiente é “considerar o protagonismo dos alunos, seus interesses e conhecimentos”.

Com mais de 15 anos de experiência em formação continuada de professores, Grace é responsável pela Seção de Valorização do Magistério na Secretaria de Educação do município de São Bernardo do Campo (SP) e também é colaboradora do Instituto Paramitas e do Portal do Professor, uma parceria entre o Ministério da Educação e o Ministério da Ciência e Tecnologia.

Quais são as principais características de um bom plano de aula e quais fatores podem “destruí-lo”? 

Um bom plano de aula considera o protagonismo do aluno, seus interesses e conhecimentos. Em um plano de aula dinâmico, o aluno não pode ser um receptor, um sujeito passivo. Os alunos são inteligentes, argumentativos e participativos quando o planejamento permite. O processo de ensino-aprendizagem é uma relação entre aluno e professor e ambos evoluem nessa vivência.

O que destrói um planejamento é um olhar somente sob a ótica do professor, que parte de pressupostos de uma educação bancária, repetitiva e enfadonha, com uma metodologia estática, com poucos recursos e que não considera o aluno como protagonista do processo. Um planejamento no qual o aluno não é comunicado, só reproduz, e ainda é baseado em uma avaliação parcial.

Seus planos de aula são bastante criativos. Como funciona seu processo de elaboração?

Na elaboração de minhas aulas, há três elementos fundamentais:

1. O conhecimento prévio dos alunos é sempre o ponto de referência para as propostas. Ninguém sabe nada e ninguém sabe tudo, mas todos podem contribuir, nem que seja com dúvidas interessantes. Apresentar respostas nem sempre é o único caminho, às vezes uma boa pergunta pode ser um excelente disparador para um projeto.

2. As propostas pressupõem um trabalho colaborativo, compartilhar saberes entre os alunos é fundamental para ampliação do conhecimento. São diferentes zonas de desenvolvimento, no entanto são próximas. Assim, os alunos apresentam hipóteses que são corroboradas no próprio grupo. Isso estimula um comportamento mais solidário e tão necessário para nossa vida em sociedade.

3. As aulas sempre contam com diferentes recursos, como  livros, sites, programas, filmes, músicas etc. Os alunos aprendem por meio de diferentes linguagens e uma boa aula apresenta escolhas.

O último fator é sempre estar conectado no que interessa aos alunos. Por exemplo, li todos os livros do Harry Potter, a coleção do Percy Jackson e por aí vai, e procuro entender o que seduz as jovens mentes. É  necessário praticar uma docência que considere a contemporaneidade dos alunos, afinal, não dá para ensinar como no século passado. Há  novos recursos que podem compor uma boa discussão e a busca pelo conhecimento. Por isso, é importante atualizar-se sempre.

Você trabalha bastante a questão multimídia, com o uso de vídeos e TIC. Qual é a sua opinião sobre o uso que o educador brasileiro faz das TIC em sala de aula?

O professor está começando a descobrir o prazer de poder contar com recursos midiáticos. Trabalho há mais de 10 anos na formação de professores em relação às TIC, e já identifico avanços. As instituições educacionais precisam investir na formação dos docentes e possibilitar esse acesso. Cada vez mais o professor acessa sites para ajudar em seus planejamentos, e ao descobrir que a internet pode ser um caminho para socializar, publicar, divulgar, perguntar e aprender, ele vai perdendo o medo tecnológico e se lançando em busca de formas de aprender a utilizar as ferramentas tecnológicas. Poder ver e vivenciar com os educadores que essa descoberta é um grande prazer!

Nesse sentido, como “conquistar” o educador que ainda é resistente às novas tecnologias?

Investimento na formação continuada é a peça chave para seduzir os educadores para as novas tecnologias, e os gestores educacionais (diretor, coordenador pedagógico) das  escolas precisam usar as ferramentas tecnológicas nas formações, nas reuniões pedagógicas e em qualquer encontro pedagógico com os professores. O educador precisa identificar as vantagens das TIC em seu cotidiano escolar.

Um equivoco na formação de professores é que incentivamos um trabalho lúdico, inovador, tecnológico para os educadores em suas salas de aula, mas para isso utilizamos uma metodologia precária, expositiva. É necessário quebrar esse paradigma de formação de professores, principalmente em relação às TICs.  Socializar propostas inovadoras que estão dando certo, intercambiar conhecimento com outros educadores por meio da web, utilizar ferramentas tecnológicas que podem ampliar os planejamentos e desmistificar que as TIC são para “entendidos” – elas estão disponiveis a todos que se lancem nesse mundo de descobertas.

Como potencializar o uso de projetos educacionais mais elaborados no Ensino Médio, em tempos de apostilas focadas no vestibular?

A questão é focar todo processo de ensino-aprendizagem na apostila. Ela deve ser somente um recurso e não o objetivo central de todas as aulas, isso esvazia o  conhecimento e reduz as possibilidades. É uma concepção baseada na informação, e a função social da escola deve estar também comprometida com o conhecimento.

As informações são fragmentadas e desconectadas da vida real, os projetos devem estar associados a questões práticas da vida. Por exemplo, não consigo conceber estudar Física só com fórmulas. Ela é  vivencial, e facilitaria seu aprendizado se ele fosse associado à vida. Isso ocorre com todas as disciplinas.

Os alunos na faixa etária do Ensino Médio são capazes de realizar projetos fabulosos. Eles podem ser convidados a hipotetizar, recriar, pesquisar, simular novas soluções para os problemas da sociedade. Assim, a apostila seria só mais um recurso.

Mas o problema não é a apostila. Oo equívoco é que ela constitui o centro de todo o aprendizado. Li em uma revista periódica esta semana que um estudante brasileiro criou um vírus para o twitter, fico imaginando esse conhecimento voltado para o bem comum.

O desafio para nós, educadores, é propiciar que os alunos possam aprender para serem melhores cidadãos.

Você tem retorno sobre os planos de aula que publica no Portal do Professor? Como os professores vêm utilizando seus planos?

Tem sido um grande prazer verificar o impacto de publicar aulas e, imediatatamente, serem comentadas por professores de todo o Brasil. Apesar de ser usuária diária e apaixonada pelas TIC, não deixo de me encantar com a proximidade que a internet permite, mas vejo isso como algo positivo, pois o professor precisa se encantar e reencantar continuamente com o conhecimento e suas possibilidades. Além disso, presto muita atenção às críticas, pois elas são feedbacks para que possa mudar e melhorar as propostas. Às vezes considero a minha aula tão simples e os comentários tão estimulantes, que acredito que todo professor deva divulgar sua prática, assim vamos crescendo coletivamente. E fica sempre um autodesafio de criar melhores aulas para os colegas de todo o Brasil.