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NOTÍCIAS

10-09-2012

Pierre Lévy no R.I.A. Festival

No último dia 22 de agosto, o filósofo e especialista em educação, Pierre Lévy, esteve presente no R.I.A. (Reflexão/Interação/Ação) Festival, no Auditório Ibirapuera, São Paulo.

O evento teve dois dias de debates sobre redes de aprendizagem, economia e relacionamento na era digital. Uma co-realização da Fundação Telefônica | Vivo, Itaú Cultural e Centro Ruth Cardoso, o R.I.A. Festival reuniu ativistas sociais, líderes digitais e o público para discutir a cultura digital com um formato inovador, no qual, ao mesmo tempo em que promoveu painéis apresentados no telão, abriu espaços para interação de ideias (Open Space) e ações culturais (Diálogos Criativos).

Com a apresentação do Mestre de Cerimônias dos Painéis, o designer de fluxos de conversação Luiz Algarra, o R.I.A. Festival teve início trazendo grandes nomes da mídia, como o jornalista Gilberto Dimenstein e o filósofo Pierre Lévy que apresentaram seus pontos de vista sobre “A construção da cultura digital – estética de uma nova sociedade”. O debate foi mediado por Françoise Trapenard, da Fundação Telefônica.

O Mestre de Cerimônias, Luiz Algarra

Pierre Lévy apresentou as seguintes propostas e ideias para a educação:

-  A educação deve desenvolver ações no sentido de fazer o indivíduo trocar o medo do desconhecido pela curiosidade. Nesse sentido, a curiosidade deve ser, portanto, a motivação para o aprendizado e para a busca do conhecimento.

-  A educação deve ter consciência dos diferentes conhecimentos e inteligências: formal (estruturada/cognitiva), sentimental (emocional) e das ações (conhecimento colocado em prática). Cada indivíduo passou e passa por diferentes experiências de aprendizagem e, portanto, pela aquisição de diferentes conhecimentos e competências.

O objetivo principal dessas ações é desenvolver um indivíduo capaz de aprender coletivamente (e isso requer esforço) para criar a economia do coletivo. Para isso, precisamos das seguintes virtudes:

= transparência (saber como a sociedade e o conhecimento foram construídos);

= humildade (ter a consciência de que não sabemos de tudo);

= ética (reconhecer o olhar do outro);

= compartilhamento (socializar saberes e informações).

Pierre Lévy no R.I.A. Festival

A estética de uma nova sociedade construída pela cultura, hoje, chamada digital prevê:

- Uma inteligência coletiva (busca da qualidade de vida do grupo e não só do indivíduo ou de um pequeno grupo).

-  Uma economia da informação (busca do compartilhamento, da solidariedade e da socialização da informação ). Usar a internet e as tecnologias atuais para a difusão e troca do conhecimento, de forma que cada um possa contribuir, do seu canto, no seu tempo, com sua ideia, com seu pensamento, com seu ponto de vista. Assim, será possível construir uma sociedade melhor planejada e, levando ao pé da letra, melhor pensada.

-  A construção de uma ética da sociedade do conhecimento.

A inteligência coletiva, nas palavras de Pierre Lévy, “nasce do equilíbrio entre a cooperação e a competição, deixando claro que não são apenas os cientistas que utilizam esse novo conceito: as empresas necessitam cada vez mais de empregados que precisam lançar ideias e resolver questões coletivamente. As tecnologias atuais permitem isso.”

A inteligência coletiva desenvolveu–se à medida que a linguagem evoluiu. A disseminação do conhecimento acompanhou a difusão das ideias por meio dos discursos, da escrita (podemos ler um livro de Platão hoje, mesmo que a obra tenha sido escrita há mais de mil anos) e da imprensa (com o aperfeiçoamento dos meio de comunicação, a inteligência coletiva sai ganhando). Hoje, a era é diferente. E inédita. “O mundo das ideias é o ciberespaço, que permite a interconexão e, portanto, a ubiquidade”, segundo Lévy.

Para Pierre Lévy, a inteligência coletiva pode ser dividida em:

1) inteligência técnica (que lida com o mundo concreto e dos objetos, como a engenharia – coisa);

2) conceitual (conhecimento abstrato e que não incide sobre a materialidade física, como as artes e a matemática – signo);

3) emocional (a relação entre os seres humanos e o grau de paixão, confiança e sinceridade que a envolve, e tem a ver com o direito, a ética e a moral).

 

José Luiz Goldfarb, Pierre Levy, Françoise Trapenard e Gilberto Dimenstein

Para fechar o debate, um dos participantes levantou a seguinte pergunta: quais são as questões polêmicas que surgiram com o acesso em massa da internet e que se envolvem diretamente com a inteligência coletiva?

“Na construção do conhecimento coletivo”, responde Pierre Lévy, “podemos nos perguntar como ficam as questões ligadas, por exemplo, com: os direitos autorais? Os software livres ? Weblogs? Educação a distância? Jornalismo on-line? Estes são alguns dos assuntos relacionados à expansão do ciberespaço e merecem destaque. Se não houver uma ética na construção do direito para a web, temos a construção de uma sociedade digital na qual o cidadão não se reconhece e, portanto, ocorre o estranhamento ou novamente a construção de um poder não legitimado.”

“Estamos apenas no início de uma nova etapa da evolução cultural”, finaliza Pierre Levy.

(Texto de Roseana Ialongo e fotos de Cláudia Levy)