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ARTIGOS

30-03-2012

Livros, internet e a nova geração

Tenho percebido que, assim como tem ocorrido com as revistas e jornais, muitos livros didáticos já estabelecem conexões com o “mundo virtual”. Ainda que ameaçados de perder o seu espaço – o que não acredito que vá acontecer –, de fato concordo que é necessário que eles sejam aprimorados, quando não realmente reinventados, buscando integrar as tecnologias às propostas de atividades.

Os livros ocuparam um papel de credibilidade ao longo da nossa história, constituindo-se praticamente no maior instrumento de segurança do professor. Hoje, contudo, dada a velocidade da comunicação na internet, a escola deixou de ser o local primordial de recepção de informações. Não é mais na sala de aula que o aluno aprende primeiramente sobre uma descoberta ou mudança conceitual – para comprovar isto, temos o exemplo de Plutão, que em 2006 deixou de ser considerado um planeta. Quem estava on-line recebeu a novidade antes mesmo de assistir aos noticiários da TV.

A nova geração, acostumada com os recursos colaborativos e participativos cada vez mais presentes na web, como a possibilidade de escolher o site que quer acessar, os vídeos e recursos que quer ver, organizá-los em favoritos, curtir ou não curtir um conteúdo postado por usuários, publicar suas próprias informações em redes sociais ou microblogs como o Twitter, não aceita mais o que lê de forma passiva, sem debater ou questionar o que é discutido em sala. Se a aula não permite que essa geração atue desta forma, ela deixa de participar.

O nosso Bruno, de 11 anos, se interessa muito por planetas e encontrou ontem uma informação equivocada num livro sobre o assunto: a rotação não representa o movimento da Terra em torno do sol, logo observou ele, mas sim o giro da Terra em volta do seu próprio eixo. Não achei ruim o fato de o livro estar incorreto, pelo contrário, pois a experiência foi bem significativa para ele, que certamente terá um olhar mais atento ao que lê, sem achar que tudo que está nos livros é correto ou escrito da melhor forma.

Neste sentido, nós, educadores, temos um desafio ainda maior na web. Afinal, ela é um ambiente em que qualquer um de nós pode publicar informações – certas, erradas, justas, injustas… E muito questionáveis. Um exemplo é a Wikipedia, projeto impressionante de criação de uma enciclopédia mundial, atualizada por milhões de colaboradores, que aparece sempre em primeiro lugar nos buscadores e nas buscas de nossos estudantes, muitos até universitários.

A concepção da Wikipedia é maravilhosa. Há uma inteligência coletiva preocupada em garantir a qualidade de seu conteúdo, desafio superado relativamente bem pela comunidade atuante – quem ajuda a manter a Wikipedia melhor não consulta uma única fonte e, em geral, realmente é interessado nos verbetes aos quais se dedica.

É importante desenvolvermos com os alunos o cuidado e, ao mesmo tempo, a competência de saber comparar informações. É muito importante que os alunos não tenham como única referência o primeiro site que encontram na web, tampouco unicamente o conteúdo dos livros que recebem da escola. Todos estes materiais podem ser ampliados com questionamentos e pesquisas. Sem contar as pesquisas que podemos fazer por meio de fontes que não precisam ser livros e internet: há conhecimentos que estão nas pessoas, no trabalho de campo, em um filme… Tudo deve ser considerado na escola.

É de se esperar que quem produz livro didático estabeleça maior conexão com a internet, buscando com ela estabelecer parceria, de modo que cada recurso consiga cumprir o seu papel. Por outro lado, os educadores também não precisam esperar que isso aconteça. Não há material impresso ou mesmo na web que seja suficiente para cobrir todas as milhares de estratégias que precisam ser pensadas no dia a dia, até porque as melhores delas devem ser construídas a partir das demandas trazidas pelos alunos. Porém, articular o que se discute por meio de diferentes materiais (livro, internet, TV, passeios) pode trazer muito mais significado e criticidade aos educandos, algo que é fundamental nos dias de hoje.

Mary Grace Pereira Andrioli é pedagoga graduada pela USP – Universidade de São Paulo, mestre em Educação pela mesma instituição e pós-graduada em Design Instrucional pela UFJF – Universidade Federal de Juiz de Fora. Criadora da comunidade Vivência Pedagógica, sócio-fundadora e diretora pedagógica do Instituto Paramitas, atualmente é pesquisadora da Escola Politécnica da USP e consultora do MEC – Ministério da Educação.

Mary Grace escreve semanalmente para o Blog das Editoras Ática e Scipione. Saiba mais sobre ela em:

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:: Twitter - @educmary e @instparamitas

 
 Texto publicado no Blog da Editora Ática, “Eu Amo Educar”